Domingo, 3 Novembro

O governador de Roraima, Antonio Denarium, mesmo negando envolvimento com o garimpo ilegal, sendo como incentivador ou comerciante, evidências levam a crer que existe uma relação próxima. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, após visita ao estado, disse que o Estado incentiva o comércio ilegal em terras indígenas.

A repórter do Sem Mordaça, Lina Teixeira, durante coletiva de imprensa, questionou Denarium sobre sua relação com o garimpo ilegal. “Nada procede”, disse.

A ministra Sônia Guajajara disse que o Governo de Roraima não pode incentivar o garimpo ilegal e chegou a repreender Denarium. “O estado não pode insistir em apoiar ou incentivar a permanência desses garimpeiros no território indígena, porque o estado não pode ter como principal atividade econômica uma atividade ilícita”, disse.

Neste ano, familiares de Antonio Denarium, como a irmã e o sobrinho  Fabrício Almeida, foram alvos de investigação por suspeita de envolvimento com a venda de ouro ilegal da terra Yanomami. 

Em prol da exploração dos minérios , o governador chegou a criar uma lei que autorizava o uso de mercúrio nos garimpos. Lei inconstitucional que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou. Além disso, Denarium também sancionou outra Lei que proibia a destruição de bens de garimpeiros ilegais em Roraima. 

Na Justiça Federal de Roraima, dois empresários disputam a posse de um avião vendido pelo governador do estado. Em novembro do ano passado, a aeronave foi apreendida por suspeita de servir ao garimpo na Terra Indígena Yanomami.

Há suspeita é que Denarium teria vendido o avião em 2021 a Antônio Timbó, que já foi investigado por garimpo ilegal. Segundo o processo, o governador tomou o avião como pagamento de uma dívida em 2015, e o vendeu a Timbó seis anos depois. 

Em 2012, Antônio Timbó foi condenado por adulterar avião usado no garimpo. Nos anos 1990, ele foi alvo da operação Selva Livre, realizada pela Polícia Federal (PF) para expulsar o garimpo da Terra Yanomami antes da demarcação definitiva do território, que ocorreria em 1992.

Timbó, em seguida, o teria revendido a Valdir Nascimento, conhecido como “Japão”, condenado em 2020 por garimpo ilegal. Já outro envolvido na compra, o empresário Paulo Assis de Souza, dono da mineradora D’Goold, reivindicou a aeronave na Justiça. Ele alegou que os negócios entre o governador de Roraima e Timbó e depois entre Timbó e “Japão” foram ilegítimos.

Paulo Assis também já foi alvo da operação Hosperiedes em 2019. Ele fazia parte de uma organização criminosa que seria responsável pelo comércio ilegal de ao menos 1,2 tonelada de ouro extraída em garimpos da Venezuela e de Roraima. 

Essas vendas de avião não foram registradas na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A D’Goold argumenta que comprou a aeronave do antigo proprietário, o empresário Carlos Domiciano, que tinha uma dívida com Denarium em 2015.

Na operação que interditou o hangar, a Polícia Federal havia apreendido 28 aeronaves com suspeita de uso ilegal. Na época, o avião vendido por Denarium ainda não estava no local, mas foi levado para lá semanas depois.

Valdir Nascimento, o “Japão”, não está disputando a posse do avião, mas a D’Goold diz que ele o comprou de Timbó. “Japão” foi alvo de uma operação da Polícia Federal em 2018 e acabou condenado em dezembro de 2020 por garimpo na terra Yanomami.

Japão é descrito pelo Ministério Público Federal (MPF) como o “maior fomentador da atividade garimpeira ilícita na Terra Indígena Yanomami”, ele é dono de pelo menos três aeronaves que seriam fretadas para garimpeiros. A PF apurou que somente em uma semana foram realizadas mais de 20 fretes para o garimpo. 

Cada frete aéreo para o garimpo custa em média de 10 a 12 gramas de ouro, sendo de R$ 10 mil a 12 mil, assim somente em uma semana, a organização criminosa auferia lucro de cerca de R$ 200 mil, aponta um dos inquéritos. 

Uma agenda apreendida nas investigações mostra que Nascimento operou ao menos 221 fretes para outros contraventores. 

Em reportagem exibida pelo Grupo Norte Investigação, Japão fala sobre a aeronave é suposto crime de agiotagem por parte de Antônio Denarium.

Denarium tem sua gestão conturbada desde a visita do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao visitar a área indígena yanomami percebeu o descaso com a região por parte dos governos .

Desde então inúmeras operações estão sendo realizadas na região retirada de garimpeiros, equipamentos queimados e  ainda mortes na região.

Denarium ainda foi denunciado ao MPF por falas racistas onde disse que índio tem que sair do mato e se aculturar. O envolvimento próximo  do governador de tradicionais exploradores de ouro em terra indígena, cada vez mais se afunila e mostra que Denarium mantém alguma ligação com o garimpo .

E-mails foram enviados ao Governo e aos envolvidos questionado a venda do avião mas ainda não fomos respondidos.

Ao site UOL, o governo disse em nota, que a gestão estadual afirmou que Denarium “acredita na lisura da Justiça e confia na sua inocência”, mas que os esclarecimentos serão dados à Justiça.

Antonio Timbó entrou com um recurso para tentar recuperar o avião. No documento, o pecuarista alega que a D’Goold “nunca foi proprietária do avião e nunca sequer teve a posse do bem, valendo-se de meios escusos” para colocar a aeronave em nome da empresa.

D’Goold afirmou que o avião foi “usurpado” por Denarium, o que obrigou a empresa a entrar na Justiça. Segundo a defesa, a empresa “tentou reaver a aeronave de forma amigável, apresentando os documentos, mas não teve êxito”.

Valdir Nascimento, o “Japão”, afirma que não há provas de que ele tenha praticado o garimpo em terras indígena