Sexta-feira, 8 Novembro

Na pequena sala, há basicamente mapas e cronogramas de visitas às comunidades indígenas afixados na parede e uma mesa com um equipamento de radiocomunicação. Ali, todos os dias, das 7h às 19h, um operador de rádio fica sentado e se comunica com o povo yanomami.

Apesar de singela, essa sala no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek’uana (Disei-YY), em Boa Vista, é o único canal de comunicação em tempo real com a maioria das comunidades da terra indígena yanomami, tanto em Roraima quanto no Amazonas, áreas em que não há sinal para aparelhos celulares.

É por ali que entram as demandas do povo yanomami, tanto em relação à saúde quanto a outras emergências e qualquer outro tipo de necessidade de comunicação. O contato dos indígenas com o Disei-YY é feito a partir de 78 unidades de saúde espalhadas pelas comunidades.

Por esta pequena sala em Boa Vista chegam, por exemplo, as informações sobre casos graves de saúde que necessitam de remoção para hospitais da capital.

“Os yanomami procuram essas estações, passam as informações para os profissionais de saúde e o profissional de saúde passa pra cá. Passam informações sobre remoções. Quando uma mãe se recusa a vir para a cidade, minha equipe vem pra convencer, porque eles têm medo de avião, de a criança morrer aqui, de a criança não retornar pra comunidade”, explica o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’uana (Codisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

Com as informações em mãos, são acionados os recursos logísticos necessários, como aeronaves e equipes médicas, para chegar até aquela comunidade e transferir o paciente para Boa Vista.

A central de rádio recebe também pedidos de medicamentos, além de denúncias de ameaças de garimpeiros e conflitos. “Chega tudo aqui. A gente ouve e corre para resolver esses problemas”, conta Júnior.

Como a sala não funciona 24 horas, demandas ocorridas durante a noite, só podem ser resolvidas na manhã seguinte. E, segundo Júnior Yanomami, mesmo nos horários de funcionamento da sala, algumas vezes não conseguem estabelecer comunicação com a terra indígena. “Às vezes só pega dez horas da manhã, às vezes uma hora da tarde”.

A operadora de rádio Iolanda Carvalho conta que muitas comunidades não conseguem se comunicar diretamente com a central, por ficarem em territórios remotos. Nesse caso, é preciso que outras unidades de saúde façam a mediação.

“Tem polo que é tão fraca a propagação, que tem que pedir pro outro ajudar, porque a gente não ouve. Então, às vezes, é até difícil a comunicação chegar certa aqui, porque envolve muita gente”, afirma.

Nove postos de saúde contam também com um aparelho de telefone público (orelhão), mas nem todos estão funcionando, conta Júnior.