Sábado, 27 Setembro

Dando continuidade à série sobre o policiamento militar do Estado do Amazonas, o Núcleo de Investigação do Portal Alex Braga traz uma nova denúncia que aponta o governador Wilson Lima (UB) como o principal responsável pelo descaso com os batalhões e o baixo efetivo de policiais militares em todas as cidades do interior do Estado. Segundo dados levantados pelo PAB, a defasagem no efetivo de policiais no interior do Estado já atingiu os 426%.

De acordo com o portal da transparência do Governo do Estado, ao todo existem 8.768 (Oito mil, setecentos e sessenta e oito) policias militares constando na folha de pagamento. Destes, 1.843 (Mil oitocentos e quarenta e três) estão à disposição dos batalhões, pelotões e companhias independentes de policiamento do interior e 272 (Duzentos e setenta e dois) aguardam entrar para a reserva.

Após pesquisas, nossa equipe investigativa identificou que o padrão de policiamento da Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que haja 1 policial militar para cada 250 habitantes.

Fonte: ONU

Mas será que essa é a realidade do interior do Estado?

Números reais

Depois de conflitar o número de habitantes de todo o interior do Amazonas, disponibilizado pelo IBGE, com o número de policias militares disponibilizados para os municípios, nossa equipe constatou que, atualmente, o Estado conta com 1.876 agentes para 2 milhões de habitantes. E com um breve cálculo, notamos que, no interior do Amazonas, que cada policial militar é responsável por 1.066 cidadãos, configurando uma defasagem de 426,5% sobre a média apontada pela ONU como padrão.

Outras lotações

Diversos policiais militares da ativa não cumprem serviço em batalhões, Cicom’s ou mesmo no Comando-Geral da PM. Muitos deles, na verdade, são destinados para a guarda e segurança de entidades públicas do Estado, incluindo o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) junto com seus fóruns e anexos, o Ministério Público do Estado (MPAM), o Tribunal de Contas do Estado (TCE/AM), a Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM) e outros.

Leia mais: ALE-AM esconde número de policiais militares à disposição de deputados

Porém, quando se vai a qualquer entidade ou instituição, como as citadas acima, percebe-se facilmente que, além dos policiais militares, existem vigilantes armados e agentes de portaria de empresas privadas contratadas para realizar a segurança do local, incluindo controle de entrada e saída de pessoal e material. Logo, a presença dos policiais se torna obsoleta e desnecessária, haja vista a discrepante ausência de policiamento no interior do Estado.

Nossa equipe enviou um e-mail para alguns desses órgãos questionando sobre a quantidade de PMs à disposição deles, mas até o fechamento desta matéria, nenhum deles nos respondeu.

E-mail enviado sobre efetivo de policiais nas entidades

TRANSPARÊNCIA

Outra denúncia enviada por militares, que têm sentido na pele a sobrecarga de manter a ordem e a segurança pública no interior do Amazonas, diz que, além do fato de o efetivo da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) estar baixo, os militares informaram, ainda, que o Portal da Transparência do Governo do Estado esconde informações da população amazonense, como por exemplo a cidade em que o agente está lotado e quantos policiais existem ao todo no referido município.

Segundo os denunciantes, até outubro de 2023 era possível encontrar o município do interior em que o policial estava lotado, no portal da transparência, mas a informação foi retirada sem justificativa.

Comparativo Portal da Transparência

Em outubro de 2023, um dos policiais aparece lotado no 4º Batalhão de Policiamento Militar (BPM) de Humaitá. Já em julho de 2024, a descrição de lotação do agente aparece apenas como “PM ATIVOS INTERIOR”.

O grupo de policiais procurou o governo do Estado para questionar sobre a retirada dessas informações do portal; o Executivo respondeu que havia tomado tal atitude visando a segurança dos agentes.

Ocorre que servidores públicos e o que diz respeito ao departamento de lotação deles, entre outras informações, devem constar por lei, no portal da transparência.

Concurso de 2022

O Núcleo de Investigação do PAB produziu uma matéria sobre o concurso ofertado pelo governador Wilson Lima durante o período de campanha, em 2022. Na ocasião, Lima afirmou que iria lançar seis vezes o número de vagas do certame.

Leia mais: Denúncia aponta que Wilson Lima usou concursos para obter vantagem nas eleições

Atualmente, 3.656 candidatos aprovados nas fases do certame para as vagas de soldado e oficial esperam ser chamados para somar com a Polícia Militar do Estado.

Porém, mesmo que esses candidatos entrassem hoje para compor o efetivo da PM, ela não atingiria seu contingente ideal que seria de, no mínimo, 16 mil policiais militares.

Até quando a segurança pública do Estado será tratada com tanto descaso por parte do Executivo?