Quinta-feira, 11 Setembro

A Polícia Federal cumpriu, no último domingo (3/3), e deu continuidade nesta segunda-feira (4/3), dois mandados de prisão contra suspeitos de intimidarem uma testemunha que estaria colaborando com as investigações relacionadas a desvios de medicamentos destinados ao povo Yanomami.

São remédios oriundos do Ministério da Saúde, que foram destruídos às margens da BR-432. A prisão e as investigações vieram na esteira das reportagens do Portal Alex Braga, que mostrou em primeira mão a destruição de medicamentos na fazenda de Harison Moraes da Silva, assessor da secretária de Saúde, Cecília Lorenzon.

As reportagens renderam ameaças de morte contra o jornalista Alex Braga, que na sexta-feira reuniu a imprensa para revelar o nome dos envolvidos em um plano para matá-lo.

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O sítio usado para queimar os medicamentos vencidos pertence ao consultor técnico. Harison está preso.

Os mandados foram expedidos pela quarta Vara da Justiça Federal em Roraima. A queima ocorreu no mesmo dia em que a casa da secretária foi alvo da PF pela primeira vez, ainda no ano passado.

MEDICAMENTOS QUEIMADOS

Um escândalo na Secretaria de Saúde de Roraima (Sesau), foi revelado em setembo do ano passado pelo Portal Alex Braga. Medicamentos comprados com dinheiro público que deveriam ser usados para salvar vidas, foram queimados no sítio de um servidor que faz parte da equipe da secretária Cecília Lorenzon.

A propriedade fica localizada no município de Cantá e foi palco da denúncia que levou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar ao local, no mesmo dia em que a Operação Hipóxia da Polícia Federal visitava a casa de Cecília Lorenzon em Boa Vista, tendo como alvo o marido dela, Wilson Fernando Basso, por suspeitas de corrupção.

Em 31 de janeiro deste ano, a PF e a Polícia Civil de Roraima participaram de uma ação que localizou medicamentos que teriam sido adquiridos para uso pelos Yanomami em uma casa abandonada em Boa Vista/RR, além de indícios da queima de milhares de outros remédios no mesmo local.

OPERAÇÃO HIPÓXIA

A Polícia Federal deflagrou, no dia 6 de setembro, a operação Hipóxia, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) e com o Ministério Público Federal (MPF). O objetivo é apurar suspeita de superfaturamento na execução de um contrato para serviços de recarga de oxigênio ao Distrito Sanitário Especial Indígena – Yanomami (DSEI-Y).

As investigações iniciaram a partir de uma denúncia recebida pelo MPF. Com o apoio da CGU, foram identificadas várias irregularidades em uma contratação de serviços de recarga de oxigênio destinado aos Yanomami. Há indícios de direcionamento do resultado do certame, bem como atesto de notas fiscais fraudulentas. De acordo com as investigações, a suspeita é de que 89,89% do valor pago pelos oxigênios à empresa vencedora não tenha sido entregue ao órgão indigenista.

Neste mesmo dia, a PF cumpriu mandado na casa da secretária da Secretaria de Saúde de Roraima (Sesau), Cecília Lorenzon. O alvo era o marido dela, o empresário Wilson Fernando Basso.

A investigação aponta a aquisição de cerca de 4.500 recargas de três tamanhos de cilindros de oxigênio ao longo de 2022. Todo este material deveria ter sido distribuído para comunidades Yanomami, por meio do polo de atendimento em Surucucu. No entanto, apenas 10% do cilindros teria sido entregue, num esquema que desviou R$ 964.544,77 da saúde Yanomami.

ROGER, CECÍLIA E MAIS SUSPEITAS

A operação resultou ainda na prisão do empresário Roger Pimentel. Ele é dono da BALME EMPREENDIMENTOS, e era proprietário da RH EMPREENDIMENTOS, atual UPMED FARMA de Wilson Basso, marido da secretária Cecília Lorenzon.

A BALME EMPREENDIMENTOS, do empresário Roger Henrique Pimental, já foi alvo da PF em 2022 por suspeita de desvio de medicamentos do povo Yanomami e voltou a ser investigada na operação que apura suspeita de superfaturamento na execução de um contrato para serviços de recarga de oxigênio ao Distrito Sanitário Especial Indígena – Yanomami (DSEI-Y). 

A aproximação e intimidade com a família de Lorenzon rendeu bons lucros ao empresário, agora procurado pela PF.  De 2019 até fevereiro de 2023, Roger Henrique abocanhou do Governo de Roraima e do Ministério da Saúde mais de R$ 5 milhões com a empresa BALME EMPREENDIMENTOS, que apesar de ser investigada pelo Ministério Público, continuou prestando serviços na área da saúde pública no Estado. 

PF MIRA SESAU

No dia 6 de fevereiro, um servidor da Secretaria de Saúde de Roraima foi preso preventivamente pela PF por suspeitas de participação nos crimes, de forma que ele seria o proprietário de fato do imóvel onde as medicações foram encontradas. Além disso, as investigações indicaram que outros medicamentos, na mesma condição, teriam sido queimados em sua chácara, no município do Cantá/RR.

Após as ações, uma testemunha que colaborou com a PF sobre os fatos passou a ser intimidada por um dos suspeitos de participar do esquema. Um caminhão de sua propriedade teria sido utilizado para transportar os medicamentos. Durante buscas realizadas no dia 6/2 foram encontrados documentos relacionados a empresas de fachada que seriam utilizadas para simular origem e destino de valores dentro do caminhão. A testemunha teria presenciado a contratação de um pistoleiro, por este suspeito, que viria de Rondônia para prestar apoio ao grupo.

O dono do caminhão e um comparsa foram presos preventivamente após passarem a ameaçar a testemunha, tanto por meio de mensagens quanto presencialmente.

As buscas realizadas no âmbito deste inquérito policial encontraram indícios do envolvimento de pessoas relacionadas à Secretaria de Saúde de Roraima também investigadas em outros inquéritos que apuram crimes como fraude em licitação e corrupção.

As investigações seguem em andamento.

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